A alimentação representa a maior parte dos gastos da produção leiteira. O milho é um alimento concentrado de alto valor energético muito utilizado na formulação da dieta dos animais, que por sua vez, vem atingindo preços cada vez mais altos, dada a alta demanda. Dessa forma, os produtores leiteiros estão cada vez mais interessados em fontes alternativas de energia para a alimentação de bovinos leiteiros, reduzindo custos, além de evitar a alta dependência de um único insumo.
Como é feita a substituição do milho?
A depender do tipo de alimento utilizado, o milho pode ser substituído parcialmente ou até mesmo integralmente. Entretanto, cada alimento apresenta características diferentes, e o nível de produção, bem como as propriedades do leite podem ser alteradas. Além disso, é preciso tomar alguns cuidados ao substituir o milho por outro produto, pois diferentes ingredientes contam com níveis específicos de amido, proteína bruta e fósforo, sendo necessário estar atento ao balanço adequado desses elementos na dieta. Recomenda-se que seja feita uma análise bromatológica dos alimentos alternativos, pois dependendo do produto, a composição pode variar bastante, além da possível presença de aflatoxinas e outras micotoxinas.
Farelo e raspa de mandioca
Uma das alternativas utilizadas são os subprodutos do processamento da mandioca. Dentre esses subprodutos, o farelo e a raspa são as formas mais frequentemente utilizadas da raiz da mandioca na alimentação animal. O farelo é obtido após a segunda peneiragem do processo de extração da fécula, enquanto a raspa consiste na raiz, ou seja, polpa e casca, picada e secada artificialmente ou ao sol, que em seguida pode ser triturada, originando o farelo de raspa.
O farelo e a raspa de mandioca são ricos em amido, componente energético presente no milho. Enquanto no farelo o teor desse nutriente na matéria seca é de 60% a 65%, na raspa o valor varia entre 72% a 91%.
Pesquisas consideram que o farelo de mandioca caracteriza-se como um subproduto de boa utilização pela microflora ruminal, com uma alta digestibilidade da matéria seca. No entanto, dietas com excesso de amido de alta degradabilidade ou deficientes em fibra efetiva requerem cuidados adicionais, uma vez que diminuem o pH ruminal, trazendo consequências, como a acidose, o baixo teor de gordura no leite, queda de consumo e laminite. Assim, é preciso evitar a substituição total do milho pela mandioca nas dietas para vacas leiteiras. A substituição deve ser total quando a raspa ou o farelo de mandioca são combinados com polpa cítrica, casca de soja, farelo de trigo ou de glúten de milho ou outros subprodutos com baixo teor de amido.
Outro cuidado com o uso dos subprodutos da mandioca na alimentação de bovinos leiteiros é com a presença de compostos tóxicos, como os glicosídeos linamarina e lotaustralina, que geram o ácido cianídrico (HCN). Esse composto pode causar danos neurológicos crônicos ou até mesmo a morte do animal. O ácido cianídrico é eliminado pela secagem do material, de forma natural ou artificial ou pelo cozimento da raiz. No entanto, a simples exposição ao ar por 24 a 48 horas da raiz ou da parte aérea é suficiente para a retirada do HCN. Assim, os riscos de intoxicação só ocorrem com o fornecimento de parte aérea e raízes ainda frescas, trituradas e fornecidas aos animais imediatamente após a colheita.
Desempenho de vacas leiteiras alimentadas com raspa e farelo de mandioca
Comparando as dietas, o consumo de MS, a composição e a produção de leite não são significativamente afetados, tornando a dieta alternativa mais interessante, dado seu custo reduzido.
Tabela 1 - Valores de produção, composição do leite e escore corporal:
(T1 = Milho; T2 = Milho + Polpa cítrica; T3 = Polpa cítrica + Raspa de mandioca;)
Fonte: SCOTON(2003)
Fonte: Milkpoint(2021)
Comments